Eu sempre repeti
a mim mesma que me bastava, que minha felicidade era só minha e que eu era auto-suficiente.
De tanto repetir o tempo todo que eu estava completa comigo mesma, feliz comigo
mesma e era minha melhor amiga e conselheira do meu próprio interior
complicado, temperamental e inexplicável,
uma hora eu senti a necessidade de precisar de alguém. Empaquei,
procurei. Parecia que de tanto ter certeza que eu estava completa e conhecia
até minha sombra tendo ciência de que ela também me abandonava no escuro,
parecia que de tanto me sentir completa eu precisava realmente de alguém.
Foi então que
desorganizei tudo. Minha mente saiu do sistema solar e tive inicio de crises de
mim mesma. Procurei algo que me desse dor de cabeça, que me causasse insônia,
eu não queria sossego eu queria simplesmente precisar de alguém que não fosse
minha mãe ou meu pai e assim, perder a
cabeça. Acho que foi isso que eu procurei, perder a razão e me perder dentro de
mim mesma, mais do que já vivia perdida. Eu me encontrava, mas perdia logo em
seguida. Sou complexa como um espelho, onde já se viu ser auto-suficiente e se
perder a ponto de não se conhecer dentro de mil pensamentos em ebulição? Isso
não dá certo junto. Mas dava, dentro de
mim. Aliás, sempre deu.
Sei que perdi a suficiência
simplesmente por não ter o que fazer. Procurei sarna pra me coçar e aqui estou,
vermelha e tendo as vertigens dessa alergia. Mas alergias passam, a minha vai
passar.
Tudo se
desorganizou, fui atrás e encontrei, encontrei algo que ainda anda perdido sem
saber ao menos que se perde toda noite em meus sonhos, e sem saber que embora
eu evite, meu subconsciente insiste em lembrar o que não é real, o que não
conheço.
Agora, eu me
apego a ideia de que preciso, preciso disso. Mas como posso precisar de alguém
que vive somente em meu interior? De alguém que meses eu atrás eu sabia somente
da existência? Como posso? Essas coisas que nascem por acaso dentro da gente
tem um fim, não tem?
Por um momento tudo
o que precisei foi de colo, de abraço, de carinho. Por um momento tudo o que
fiz foi gritar bem forte a quem eu amo, porque é de verdade. Mas porque a
necessidade de precisar de alguém? Alguém de fora? Vi e reconheci que não é
fraqueza, é só algo que nasce e toma conta e você quer cortar e não consegue.
Algo que é essencial, mas como disse o Pequeno Príncipe, algo que é invisível
aos olhos. Mas será que cativei minha flor sem ao menos ter a chance? A flor
foi quem me cativou, olha que interessante.
Eu me senti
assim, num daqueles jogos de paciência onde você vê as cartas todas misturadas, fora de ordem
e onde uma precisa da outra pra poder formar um jogo. Tem horas que você se
pergunta, “cadê o maldito Q, que não aparece, é o que tá faltando pra
completar”. Pois é, eu já estava completa e percebi que minha vontade e não
necessidade, ou talvez necessidade era
de transbordar e pra transbordar eu me sinto incompleta, como se minha
autoconfiança não bastasse, talvez porque estejamos um pouco de mal.
Não sei, mas vou
começar tudo de novo, do comecinho. Primeiro um tempo pra mim, amor pra mim,
felicidade pra mim. Depois, compartilhar com quem eu amo, afinal, bem comigo
mesma é que eu vou poder estar de bem com os outros, não é? E partilhar o amor
e as amizades. Quero me encontrar de novo, me sentir completa de novo e assim,
lutar por aquela vontade de transbordar, ou talvez necessidade. É tudo isso que
eu preciso, ou talvez só precise ir dormir agora e acordar feliz amanhã, como
acordei hoje e pretendo acordar sempre.
Mas acho que
assim como no jogo de paciência, uma hora tudo se ajeita, não falta nada e o bônus
transborda e talvez por me sentir tão perdida agora, é que eu esteja mais
prestes de me encontrar novamente e transbordar. Finalmente, transbordar.